Um dia depois de Mikael Barbosa da Silva, 23 anos, ser indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por cinco furtos qualificados, muitos moradores do Bloco A da 312 Sul ainda não conseguem acreditar que o porteiro gentil, solícito e o qual trabalhava no prédio há quatro anos fez o “limpa” nos apartamentos. “Eu fazia café e levava para ele. Ainda não creio no que aconteceu”, disse uma mulher que prefere não ter o nome divulgado.
Considerado pessoa de confiança dos moradores, Mikael é acusado de fazer sete vítimas. Nessa quinta-feira (16/8), a 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) deflagrou uma operação e o deteve temporariamente. Os policiais fizeram ainda busca e apreensão em três endereços ligados ao suspeito. Após prestar depoimento e assinar termo circunstanciado, o rapaz foi liberado. Antes, porém, segundo os investigadores da PCDF, ele confessou os crimes.
A polícia chegou até o ex-porteiro após denúncia dos próprios moradores. A pista foi deixada por Mikael nas redes sociais. Ele postou uma foto com um óculos. A dona desconfiou e começou a trocar informações com os vizinhos.
Eles chegaram a criar um grupo no WhatsApp, chamado Roubados e Decepcionados, para tratar do caso. “Esse espaço é para trocarmos informações e dados necessários para lidar com essa situação lamentável. Apesar de todo prejuízo, é um prazer conhecer e manter contato com todos”, disse uma moradora, em mensagem encaminhada aos vizinhos.
Mikael é acusado de cometer os furtos desde janeiro deste ano. Ele não tinha passagens pela polícia. O ex-porteiro ficava com as chaves dos apartamentos e, diante dessa oportunidade, teria cometido os crimes. No prédio, os moradores estão assustados. Poucos querem falar sobre o caso. E os que falaram não quiseram se identificar, temendo represálias.
“Eu não fui roubada, mas, mesmo assim, trocamos a fechadura de casa há uns dois meses, por precaução”, destacou uma mulher residente no bloco. Outra teme represálias e pensa em se mudar. Alguns, mesmo tendo objetos subtraídos, não registraram ocorrência por não acreditarem que o ex-porteiro seja mesmo o autor dos crimes.
“É um doente. Simpático, conquistou a confiança das pessoas a ponto de muitas deixarem as chaves dos apartamentos com ele, o que possibilitou a ocorrência desses crimes”, disparou uma moradora. O Metrópoles tentou contato com Mikael, mas ele não foi localizado por telefone nessa sexta-feira (17).
Antes de ser detido pela polícia, Mikael processou duas moradoras e pediu R$ 15 mil por danos morais. Uma delas teve bens equivalentes a R$ 700 levados de casa e chegou a vê-lo em imagens das câmeras de segurança do prédio em “atitude suspeita”. “Segundo ele disse, eu falei que o pai dele é traficante, que eu estava dizendo coisas falsas, difamando”, contou.
Objetos
Uma quantidade grande de objetos – entre eles, perfumes, bebidas, tênis, relógios e até peças de lingerie, como calcinhas – foi encontrada com o acusado. Os policiais investigam, ainda, o sumiço de 30 mil euros em espécie, denunciado por um dos moradores do prédio na 312 Sul. Está na mira da polícia também a procedência de um Golf com equipamento de som completo e de duas motos que estavam na casa do ex-porteiro.
“Queremos saber como ele comprou esses bens ganhando um salário de apenas R$ 1 mil. Ele foi detido e confessou os crimes, apesar de ter dito que não sabe ao certo quantos furtos fez”, afirmou o delegado João de Ataliba Neto, da 1ª DP. Se condenado pela Justiça, o acusado pode pegar até 8 anos de cadeia por cada furto.